Pedro Ribeiro (Paramiloidose Familiar)

21-03-2011 17:01

 

Quando e como lhe diagnosticaram a paramiloidose?

A Paramiloidose foi diagnosticada em finais de 2004 no Centro de Estudos de Paramiloidose no Porto. Tinha feito um exame preliminar em 1982 mas o resultado tinha sido inconclusivo. A ciência na altura não estava, nesta matéira, no ponto de desenvolvimento que se encontra nos dias de hoje. Hoje é possível diagnosticar a existência da Paramiloidose no decorrer de uma gravidez.

 

Qual foi a primeira coisa em que pensou quando lho comunicaram?

Foi, em primeiro lugar, um sentimento de confirmação. Confirmação perante os sintomas que já se manifestavam e perante os antecedentes da presença da doença na família. O outro sentimento foi de inquietação. Inquietação, ainda que de forma serena e o mais tranquila possível, para encontrar uma solução rápida. Foi o impulso de começar a iniciar o caminho para o transplante como solução única para resolver o problema e estagnar o avanço da doença.

 

Como reagiu a sua família quando soube?

A minha família reagiu com consternação e com preocupação. Sem prejuízo de também para eles ser uma confirmação – porque percebiam os sintomas que eu já manifestava – foram invadidos por esse sentimento de preocupação. Mas, este sentimento, foi acompanhado de um permanente encorajamento e acompanhamento da minha situação. Devo-lhes muito, quase tudo, a par dos profissionais de saúde e de muitos amigos que estiveram ao meu lado nesses momentos muito difíceis.

 

Após o transplante, quando acordou, qual foi o seu primeiro sentimento relativamente ao seu novo fígado, e à pessoa que lhos terá doado?

Quando acordei o primeiro sentimento foi de felicidade e de espanto. Foi tentar perceber que estava de facto vivo. Em relação a quem me

 

 

 

Sentiu que tinha algo que lhe era estranho, dentro de si?

Nunca senti o meu novo fígado como um “corpo” estranho. Senti que tinha uma dívida de gratidão para com o ser humano que tinha “doado” a minha esperança de viver. Penso que a melhor forma de celebrar e de homenagear a vida de quem “fez” a doação é lembrá-lo de forma permanente. Foi uma vida que devolveu vida ao partir desta vida terrena.

 

Qual foi a pessoa, que durante todo o processo, mais o marcou?

Essa é uma questão muito difícil de responder e não sou capaz de resumir a uma pessoa. Felizmente foram muitas e muito importantes e de natureza bem diversa. Ainda assim, destaco toda a família que foi sempre muito solidária, compreensiva e inexcedível em todo o apoio que me deu antes, durante e depois do transplante.

 

Conseguiu voltar rapidamente ao seu ritmo do dia-a-dia?

Sim, felizmente sim. Após três meses de baixa médica retomei as minhas actividades profissionais que, na época, eram muito intensas dado que era Vice-Presidente de uma Câmara Municipal.

 

Notou alguma diferença a nível psicológico, quando saiu do hospital?

Sim. Senti que era uma pessoa mais completa, ainda mais solidária e tolerante. Lidar com a perspectiva de podermos morrer fortalece-nos enquanto seres humanos. Ao estarmos nesse contexto com outras pessoas em iguais ou piores circunstâncias aprendemos a valorizar os lados mais afectivos das nossas vidas e a minorizar questões materiais ou meramente mundanas. Relativizamos mais. Prevalecem sentimentos mais nobres e arrumamos melhor as nossas “gavetas sentimentais”. Reforçamos que o mundo dos afectos é aquilo que mais importa. É o elo mais forte entre seres humanos. E dentro de tudo aquilo que podemos criar nesta vida, os afectos serão porventura os dominíos que mais depende de nós para o sucesso. Está nas nossas mãos construirmos esse mundo de afectos à nossa volta.